Parnaíba, Piauí

Durante a viagem entre Maranhão e Rio Grande do Norte, muitas pessoas me interrogavam porquê o Piaui? Para além de ser um dos estados mais pobres do Brasil, é dos mais quentes e não tem verdadeiramente atracções turisticas que justifiquem a visita. Os 66 km de costa parecem também não ajudar ao desenvolvimento do turismo e tudo se resume ao delta do Parnaíba.

Será que a vantagem não é mesmo essa? Ir ver o que os outros não querem vêr? Porque será que todos têm de massificar o turismo?

Depois de muito ouvir as pessoas desaconselharem, foi com hesitação que Teresina, a capital mais quente do Brasil, foi descartada do roteiro. Parnaíba para além de ficar na rota, a caminho do Ceará, fica também nos itinerários da Expresso Guanabara. Sente-se profissionalismo e segurança e ganha-se tempo com uma fórmula 2 em 1 simples: aproveita-se para dormir no ônibus-leito nocturno e chega-se meio dormido meio cansado na manhã seguinte ao destino.

Ao longo da estrada cintilam as luzes das pequenas casas de construção precária e o colorido das televisões sintonizadas provavelmente numa das novelas da noite. Uma casinha e um plasma a cores ... a contracenso!


A incursão ao delta do rio começa em Porto de Tatus, de barco ou em voadeira para o percurso menos turístico mas mais rápido.


O delta forma-se onde os braços do rio Parnaíba encontram o Oceano Atlântico num emaranhado de 83 ilhas e extensas praias a perder de vista. Começo a questionar-me se vale a pena voltar a estas praias desertas, sem palavras que as descrevam e onde todos os elementos se conjugam para definir o conceito de perfeição. Amanhã, as outras, serão cada vez mais imperfeitas.


Circulamos pelos canais na companhia do Gleibe, nosso piloto e guia. Embora agradável é só água e vegetação sendo parte do percurso algo monótono. Acredito que beleza do delta seja muito mais visível vista do ar. Neste habitat formado pelas ilhas isoladas coabitam várias espécies de animais. O guia ia contornando os manguezais enquanto falava dos animais. Ainda consigo fotografar o macaco Guariba que se expoe com facilidade mas do macaco Prego, mais bravo e fugidio, nem sinal. Alimentam-se de folhas e caranguejos.


Os caranguejos bem que se escondem-se na lama das margens em buracos fundos mas, pela madrugada, os pescadores (ou caçadores?) com luvas gigantescas para proteger os braços, vão apanha-los com a perícia necessária para não os matar.


Para além do comércio local, o caranguejo é vendido para outros estados vizinhos. Por meia dúzia de reais a preço de pescador, acabará por chegar bem mais caro à mesa do consumidor. É sempre assim na cadeia da distribuição. Estes pescadores vão continuar a viver humildemente do caranguejo o Piauí com dificuldade em sair do marasmo económico que se encontra desde 1700.


No regresso do delta ainda deu para mais uma pequena caminhada numa área de lençóis. O verde da vegetação misturado com o amarelo quente das areias e o pôr-do-sol em pano de fundo deixam a natureza expressar-se com simplicidade sem que tenhamos de a partilhar com hordas de turistas a consumir o momento.


Parnaíba é uma pacata e pequena cidade sem vestígios de grande modernização. O calor abafado que se faz sentir é único e condiciona uma incursão mais alargada pelo centro. As pessoas revelam-se espontâneas e dão-se agradavelmente à conversa sobretudo com os que se dão ao trabalho de os visitar.