Alcântara, Maranhão

Visitar Alcântara é literalmente regressar ao passado.
Tudo aqui é caricato a começar pela forma de chegar. De barco a partir de São Luis do Maranhão com uma travessia de 45 min, ou por estrada percorrendo qualquer coisa como 450 Km. Os horários são estabelecidos em função das marés em São Luis e portanto os habitantes ajustam o seu dia a dia em função das marés como se verá mais à frente. Quase uma hora de ondulação, vento, salpicos, e um ruidoso motor que mais parece fazer a sua ultima viagem, a desgastada embarcação lá foi cumprindo o seu papel.



Espera-nos a tranquilidade de uma pequena cidade, na qual, por volta de 1640 os portugueses se haviam instalado e de onde controlaram os negócios após a expulsão dos holandeses. Desenvolveram o comércio do algodão e da cana de açucar que durou até à abolição da escravatura. A partir daí Alcântara entrou em declínio e foi ficando votada ao abandono conforme comprovam algumas das belas habitações coloniais que resistiram aos tempos.



Hoje, muitas encontram-se recuperadas pelo Governo, outras pelos proprietários, estando Alcântara em condições de se transformar num belíssimo e tranquilo local para se possuir um casa de férias. As praias praticamente desertas têm a beleza suficiente para cativar qualquer um que não procure a socialite.



Em conversa com o George e a Marcelina, ele austríaco, ela maranhense, nota-se o entusiasmo que dedicam agora, com a reforma, à reconstrução da casa que habitam e paralelamente investem os seus recursos em obras para a comunidade. Ele, engenheiro de profissão, aproveitava os conhecimentos de mecânica e hidráulica para melhorar as infra-estruturas de água e saneamento locais sem quaisquer contrapartidas do município. Alcântara é viver no passado e por isso confessou necessitar de regressar uma ou duas vezes por ano a Viena para respirar a um pouco dos ares europeus.

Ao tentar visitar a Casa Museu do Divino Espírito Santo, constata-se estar fechada antes da hora porque o guia tinha saído mais cedo para apanhar o barco... Mesmo assim o segurança aceitou abrir as portas para uma visita, não guiada mas gratuita, o que acabou por dar mais liberdade para apreciar toda a indumentária usada na festa de veneração ao Espírito Santo, período este de festejos que pretende ser tempo de caridade e pagamento de promessas.


A contrastar com a tranquilidade local, Alcântara aloja um centro militar destinado a realizar testes e missões de lançamentos de satélites. Este centro, a par das bases de Rio Grande do Norte e da Guiana são os locais de eleição. Por estarem perto da linha do equador, conferem maior impulso e menor consumo de combustível, dada a velocidade de rotação da terra. Alcântara afinal também vive de forma discreta, na vanguarda da conquista espacial.

Isolada e sem registos do progresso feito de betão, Alcântara transporta-nos, e sem ajuda de foguetões, para outra dimensão. Liberta a imaginação para reflectir sobre um passado de trabalho árduo, de riqueza para uns e escravidão para outros, mas também de cultos e rituais com genes lusitanos.



Passada a fase da imaginação é tempo de regressar rápido ao barco. É a ultima saída do dia e a maré está a baixar em São Luis. Mesmo assim, à chegada, já não tinha maré para acostar no cais de desembarque e foi obrigado a ir atracar, de proa, numa praia mais distante. Os passageiros, foram transportados de ônibus desde a praia da Ponta Negra até ao reboliço da cidade.


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