Airbus Aérospatiale, Toulouse

Sempre nutri uma paixão pela aviação comercial, assim como o meu filho. Ambos passamos umas boas tardes em Pedras Rubras, junto à cabeceira da pista, a fotografar os movimentos no aeroporto. 

Por diversas razões, este aeroporto nunca se conseguiu afirmar como uma plataforma internacional, ficando a sua utilização limitada a aeronaves de pequeno médio porte. As grandes aeronaves passavam-nos, não ao lado, mas por cima. Ou perto de Toulouse...

O Museu Aérospatiale está situado em Toulouse-Blagnac, toda a cidade respira Airbus, são dezenas de edifícios onde se acomodam as várias unidades de negócio como por exemplo as divisões Helicopters, Jets, Space e ATR, os pequenos Aviões de Transporte Regional. 

Aqui é possível conhecer por dentro como funciona este mundo da aviação e sobretudo visitar as estrelas Concorde e Airbus A380, duas aeronaves que marcam a história da aviação. No interior das aeronaves em exposição, é possível ver a estrutura das fuselagens, cablagens, computadores de bordo, revestimentos e espaços existentes no interior que obviamente não são visíveis quando entramos num avião comercial em atividade. 


Tudo começa em 1955 com o modelo Caravelle da francesa Sud France, em 1969 o Concorde começa a ser desenhado pela britânica British Aircraft Corporation e a francesa Aérospatiale. Entretanto, em 1967, franceses, alemães e ingleses chegam a um acordo de cooperação aeronáutica e desenvolvimento de um airbus para combater os americanos que dominavam 80% do mercado. Assim nasce a Airbus.

Há vários países a produzir as partes de um Airbus - França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e Itália. Todas as chegam a Blagnac, a maior linha de produção entre outras como Hamburg, Mobile nos Estados Unidos e Tianjin na China.

Durante a visita à linha de montagem do A350, não foi permitido filmar ou fotografar por questões de segurança. São dados a conhecer pormenores muito específicos acerca da sequencia da montagem, das rigorosas condições de pintura, dos testes de cada aeronave com os pilotos Airbus e testes finais já na presença do comprador, das inspeções conjuntas para detectar anomalias, tempo permitido para reparação e penalizações que as mesmas podem resultar até à assinatura de cada contrato somente firmado após transferência bancária confirmada. Curiosamente, a Airbus, dada a quantidade de aeronaves que produz e que testa, não tem pista de testes privada, utiliza a pista do aeroporto Toulouse-Blagnac sem qualquer prioridade relativamente aos voos comerciais.

Já tivemos oportunidade de viajar no A380 na viagem à China. Um avião que marcará para sempre os céus e cuja produção terminou em 2021 ao fim de 14 anos de construção. Após o período pandémico a procura baixou sendo que atualmente este modelo foi ultrapassado por outros modelos mais versáteis com motores mais eficientes que conseguem reduzir o consumo e impacto de carbono.

Concorde, o grande ícone da aviação moderna, iniciou voos comerciais em Janeiro 1976 tendo proporcionado durante anos, viagens de luxo e de sonho. Era possível embarcar em Londres ao anoitecer e aterrar 3 horas depois em Nova Iorque ainda de dia, beber uma flute de champanhe enquanto, pela janela, se observa a curvatura da terra, uma vista só ao alcance dos astronautas.

Voando a uma altitude de 18.300 m, a resistência do ar naturalmente diminui, permitia aos 4 motores supersónicos atingir velocidades de cruzeiro de 2.140 Km/h, equivalente a duas vexes a velocidade do som. Tudo impressiona neste avião, com particular no interior, pela estreita dimensão da luxuosa cabine, o exíguo cockpit e sobretudo o painel de instrumentos do engenheiro de voo.

A frota Concorde era operada pela British Airways e Air France, em sobretudo em rotas transatlânticas, existindo também outros operadores de charter. Nos últimos anos, surgiram novos e mais confortáveis modelos de aeronaves, o numero de clientes Concorde foi decrescendo, as contínuas perdas de receitas, aceleradas pelo impacto do trágico acidente de Julho 2000 em Gonesse, ditou o fim desta aeronave de excelência. O Concorde desligou os motores em Outubro de 2003.


Recomendo o site Heritage Concorde para melhor conhecer esta obra prima da aviação.

No museu existem muitas outras aeronaves da história da aviação comercial e militar. Simuladores, áreas temáticas, alguns filmes e muita história. Se o museu por si só já vale uma viagem a Toulouse, a própria cidade é muito agradável e arejada pela presença do rio Garona. 


Também é conhecida pela cidade rosa devido à tonalidade rosada dos tijolos das casas localizadas na parte velha da cidade. Por ser uma cidade empresarialmente dinâmica, vocacionada para a aeronáutica e espacial, é também uma cidade universitária. Consequentemente, acaba por ser muito procurada por jovens estudantes e pela imigração o que lhe confere uma atmosfera cosmopolita.

 

É muito tranquila e segura. Facilmente nos perdemos a vaguear pelas ruas e ruelas do centro. Para apreciar a vida citadina nada como beber uma cerveja, ao entardecer, numa esplanada junto ao rio ou tomar uma taça de chocolate quente numa das movimentadas praças. É fácil sentirmo-nos apaixonados pela cidade, atualmente a 4ª maior cidade francesa em termos de população. 


 


Boston Marathon Bank of America 2024


Desde 2019, ano que iniciei o desafio das Six World Marathon Majors, o planeamento de outras viagens tem ficado mais difícil. A preparação de uma maratona, dependendo da condição física, requer entre 3 e 5 meses de treino consistente, condicionando a disponibilidade para outras viagens. Assim, até Abril de 2024, o único destino em mente foi Boston onde decorre a verdadeira Marathon, marcada na memória coletiva pelo atentado de 2013 mas também por ser a mais antiga das maratonas, atrair participantes desde 1897.

À chegada, Boston recebia-nos com frio e chuva. O nosso anfitrião e compatriota, Hélder Mendes esperava-nos no aeroporto de onde seguimos para o seu agradável e tranquilo AirBnB em Milford, o local perfeito para descansar e preparar para o dia da prova. Milford é uma pequena cidade que fica apenas a 11 km da partida, em Hopkinton. Curioso ver como vivem os americanos nestas vastas áreas, onde não se encontram edifícios de apartamentos, somente casas térreas familiares, com arquitetura muito idêntica, envoltas em florestas e jardins próprios. Um ambiente deveras tranquilo como pudemos vivenciar.


Além de excelente cozinheiro, algo que viríamos a experimentar após a maratona, o Hélder Mendes disponibilizou a sua cozinha para confeccionarmos a nossa alimentação evitando fazer refeições em restaurantes e arriscar problemas intestinais. Assim, com algum esforço para resistir a tentações locais, todas as refeições foram à moda portuguesa. O Ricardo Carvalho, meu amigo e companheiro de prova foi o chef de serviço. Obrigado!


Sábado amanheceu frio, pouco nublado e com alguns raios de sol. Bem cedo juntamo-nos ao Hopkinton Running Club, um grupo de amigos do Hélder Mendes, para um shakeout run muito agradável e um primeiro contacto com o clima e o terreno. Durante o curto treino torci o pé esquerdo e sem grande dor continuei até ao final do trajeto.
 

Como não se consegue participar nestas provas sem recolher presencialmente o dorsal, lá fomos à feira fazer o check-in e gastar uns dólares no típico blusão Adidas alusivo a Boston, uma das marcas patrocinadoras da prova. Por esta altura o tornozelo estava inchar e começava a caminhar com dores. Ao almoço o pé latejava. Tivemos de recorrer a um táxi para nos levar até ao comboio que faria a ligação ao carro do Hélder Mendes e finalmente regressar a casa. A tarde passou lentamente, em sacrifício físico e moral pois apoderava-se o receio de não conseguir alinhar na partida. Meses de preparação e privação em risco por um simples passo mal dado. O dia acabou com sessões de gelo e gel anti-inflamatório. 


Domingo amanheceu soalheiro e tranquilo e previa-se um aumento das temperaturas para o dia da prova. O pé estava a reagir bem, a manhã foi passada com mais descanso e o mesmo tratamento. De tarde fomos tomar café ao Clube Português de Milford, MA, onde portugueses e brasileiros se encontram para beber umas minis ou uns cimbalinos. Não fossem os bonés americanos que usam e os diferencias, diria que estávamos num qualquer café regional em Portugal.


Sem grande dor ao caminhar e mais animado com a possibilidade de alinhar à partida, ficava a incerteza do tornozelo se aguentar 42 km a correr. O resto da tarde foi aproveitado para mais descanso, mais gelo e mais gel anti-inflamatório. O quarto tinha a tranquilidade perfeita para relaxar e começar a preparar psicologicamente para os desafios do dia seguinte.

A manhã de segunda-feira apresentava-se meio nublada e pouco fria. O Hélder Mendes deixou-nos no ponto onde os autocarros transportam os corredores até ao recinto da partida. Após um bom aquecimento e uns trotes, o pé reagiu muito bem. Estava ansioso pela partida, sentia-me surpreendentemente bem, sem qualquer das habituais lesões que todos normalmente se queixam. Esta prova, dada a altimetria do percurso, as alterações atmosféricas ou as condições físicas iria ser uma autêntica aposta tripla.


O local de partida é muito icónico. Uma simples faixa amarela pintada na estrada que liga Hoptinkon a Boston, marca o início de um grande desafio que indubitavelmente deixará também marcas na vida de cada um dos participantes. São milhares os atletas que ano após ano tentam a sorte mas só alguns conseguem, por mérito, participar. Mas é cada vez mais difícil obter o dorsal que permite alinhar na faixa amarela. Dado o crescente número de inscrições, a organização baixa os tempos de qualificação deixando de fora um maior numero de atletas que não reúnem os mínimos estipulados.

Apesar de saber que a prova era matreira, fui tentando manter um ritmo confortável, sem precipitações, as descidas davam uma ilusão errada dos ritmos e tudo correu bem até ao km 25. Daí para a frente a energia consumiu-se de forma rápida, o corpo teimava em resistir ao esforço mas o depósito estava vazio, as subidas obrigavam a parar, respirar e retomar. Não estava sozinho, ao longo do percurso vi muitos em sofrimento, o bom tempo que tanto ansiávamos acabou por se tornar indesejado. Foi um sofrimento até cruzar a linha de chegada, os últimos 17 km marcaram para sempre a maratona dos eleitos.


Era tempo de apanhar o bus da organização e regressar a Hopkinton enquanto assimilava um misto de emoções e sentimentos, até finalmente chegar a Milford para descansar e comer uma bela cachupa preparada pelo Hélder Mendes à moda de Cabo Verde,  a sua terra natal. Obrigado!


Dia seguinte regressamos de comboio a Boston para conhecer um pouco a cidade até à hora do voo para Lisboa. Ainda fizemos uns bons quilômetros, incluindo o Freedom Trail, um percurso de 4 km pelos bairros históricos da cidade, com 16 paragens históricas relacionadas com a Revolução Americana.


Nas redes sociais começavam aparecer as noticias da maratona e dos estragos provocados pelo calor. 
Em conversas do nosso grupo Whatsapp surgiam noticias de colegas que também haviam passado mal, até quem tivesse recorrido ao posto médico à chegada. 
Já sabíamos que o tempo muda bastante por aquelas bandas, nada fazer, somente gerir expectativas e aguentar o impacto. Vem nos à memória relatos de colegas que em edições anteriores enfrentaram chuva e frio durante toda a prova. 

Uma maratona sabemos como começa, mas nunca como acaba daí esta ser de aposta tripla.



Não obstante estas circunstancias algo mais se atravessou no meu caminho e que não consegui decifrar. Enfim, regresso com o peso da medalha ao pescoço mas sem peso na consciência, dei tudo o que tinha para dar a esta 4ª Major Marathon em Boston.



Costa Amalfitana


Nunca uma viagem foi tão simples de planear. 
Um par de horas à volta da mesa já o grupo tinha traçado o plano: um voo até Nápoles, um comboio até Sorrento, uma Vespa para percorrer a Costa Amalfitana e uma mochila com o essencial para 8 dias de viagem.

Nápoles recebe-nos com uma chuva pouco animadora.
Refugiamo-nos de imediato na Pizzeria Pellone para apreciar a típica pizza napolitana, num ambiente descontraído e animadamente italiano de um sábado à noite. Nada como uma boa refeição para ganhar ânimo face às previsões do dia seguinte.

O comboio que faz a ligação de Nápoles a Sorrento passa por Pompeia. Apesar da chuva miudinha que caía, decidimos arriscar e visitar o Parque Arqueológico para conhecer os restos do que foi uma cidade do Império Romano.
 

Pompeia havia sido destruída durante uma erupção do vulcão Vesúvio no ano 79 d.C., que provocou uma intensa chuva de cinzas sepultando completamente a cidade, mantendo-a oculta por 1600 anos, até ser reencontrada por acaso em 1748. Desde então, as escavações proporcionaram a criação de um sítio arqueológico extraordinário e a descoberta dos vestígios de vida de uma cidade dos tempos da Roma Antiga.

 

Impressiona ver como a cidade, já nessa altura, estava bem organizada, com a sua praça principal, o anfiteatro, as ruas empedradas e o comércio essencial, desde a padaria até ao bordel. Ainda se encontram vestígios de pinturas com motivos sexuais, uma espécie de catalogo dos serviços disponíveis.


Sorrento é uma cidade muito agradável e elegante, a curta estadia não permitiu desfrutar da vida cosmopolita que revelou. Tivemos a sorte de encontrar o estabelecimento da família Testa onde alugamos 3 magníficas Vespas que nos levariam a descobrir a Costa Amalfitana durante os próximos dias. Recebemos instruções, alguns conselhos e muita simpatia. 


Como tínhamos o dia livre, atravessamos de barco para conhecer a famosa e elegante ilha de Capri. Apesar de existirem muitos locais de charme, o turismo em massa acaba por retirar parte do interesse. Quase todo o comércio é direcionado ao turista, perde-se a naturalidade do quotidiano assim como os residentes perdem a tranquilidade. Situação que começa ser incontornável em muitos lugares por esse mundo e da qual somos responsáveis pois também lá estamos! 


À chegada, o funicular apresenta-se como a opção mais simples de subir até à Piazzeta, no centro de Capri e daí percorrer as ruas mais chiques da ilha como a Via Camerelle, ou visitar o panorâmico Giardini di Augusto para desfrutar das vistas sobre o mar Tirreno. O tempo foi curto para visitar as praias e Anacapri, uma localidade menos turística mas mais acessível.

 

Dia seguinte levantamos as Vespas e arrancamos em direção a Positano, paragem para um café rápido que a polícia não facilita, seguido serpenteando por Praiano, Conca dei Marini até chegar a Atrani onde iriamos pernoitar nos dias seguintes. O tempo tinha melhorado substancialmente, as paisagens estavam bem mais coloridas. 


A cada curva desvendava uma vista ainda mais deslumbrante, onde o céu e o mar pareciam fundir-se entre azuis vivos. Tantas vezes gostaria ter parado e absorver a tranquilidade da paisagem, ou simplesmente fotografar, mas numa estrada estreita e com limitações de estacionamento, seria imprudente faze-lo. Ao longo da costa vão-se encontrando alguns miradouros. É aqui que as carrinhas com turistas conseguem espaço para parar, fotografar, arrancar para o próximo, em ritmo acelerado, pois o transito não lhes permite distrações. 


Amalfi é uma das principais comunas (organização territorial) onde todo o negócio é vocacionado para o turismo. O transito dentro da comuna só é permitido aos residentes com visto, um visitante mais distraído, identificado pelas inúmeras câmaras existentes, arrisca uma multa superior a de €100. Os espaços de estacionamento destinados aos visitantes são todos principescamente pagos. Nos meses de pico deve ser um desafio enorme encontrar lugar para estacionar ou mesa para uma refeição. Apesar de viajarmos de Vespa e parecer simples, o facto é que estas também são às centenas, estando a maioria do espaços são destinados aos locais. Afinal, estes veículos são único modo versátil que a população tem para se deslocar por estas bandas. Veem-se muitas garagens construídas nos telhados ou no que deveriam ser jardins das casas. Aqui o espaço deve valer ouro!

 

Uma vez habituados ao temperamento das Vespas, a condução tornava-se mais divertida. São 125cc de prazer em cada curva sinuosa ou de adrenalina em cada ultrapassagem mais arriscada, sobretudo para quem vem habituado a motos com mais de 1200cc.


A viagem seguiu por Minori, Maiori, Cetara rumo a Salerno, até ao Castello di Arechi, onde se encontra uma excelente vista panorâmica sobre a baía e a cidade. Salerno pareceu uma cidade simples com uma extensa avenida marginal cheia de comércio e restauração.



Após uma breve visita ao centro histórico, regressarmos parando em Vietri sul Mare. Ao longo de toda a Costa Amalfitana, encontravam-se as mesmas lojas de souvenirs, roupa, artesanato cerâmico ou decoração, muito coloridas com destaque para o amarelo do limão típico da região e o azul na paisagem. Percorrer algumas ruas tornava-se repetitivo. Seguimos viagem!


Ravello foi uma bela experiência. A comuna está encavalitada nas escarpas de Amalfi a cerca de 6 km de Atrani. As Vespas percorrem com facilidade a estreita e sinuosa estrada de montanha. Muito agradável relaxar numa esplanada junto à Piazza Duomo ou passear pelas estreitas ruelas, de onde se conseguem algumas vistas fantásticas sobre o mar. Ravello tem qualidade, tem tranquilidade, tem charme e muitas villas de luxo. Seguramente o local perfeito para viver.


No terceiro dia a rolar na Strada Statale 163 passamos o dia em Positano, a mais turística das comunas. Para evitar surpresas, estacionamos as Vespas numa garagem e descemos a pé até ao cento percorrendo as típicas ruas estreitas, de sentido único, até acabar junto à praia. Observando de baixo para cima, parece uma cidade Lego, com as casas encavalitadas umas nas outras formando uma pintura incrivelmente colorida. Apesar de ser Abril, já se veem muitos turistas, podendo-se imaginar como se tornará irrespirável em pleno verão. 


Ao longo da estrada principal, perto das comunas veem-se carros e scooters estacionados na via dificultando a passagem do restante trafego, sobretudo os autocarros que movendo-se com mais dificuldade, arrastam atrás de si, muitos veículos que dificilmente os conseguem ultrapassar. Deve ser um martírio na época alta.

 

Com cerca de 170 km percorridos ao longo da Costiera Amalfitana, como os italianos lhe chamam, chegava a hora de regressar. De novo com a mochila às costas e depois de um cafezinho na solarenga praia de Atrani, regressamos a Sorrento para os últimos 30 km definitivamente rendidos a estas "italianas". Como diz o ditado não há bem que sempre dure... 


Já em Nápoles, voltamos à Pizzeria Pellone para repor calorias e deixar a bagagem no alojamento. Aproveitamos a tarde para passear na Via Toledo, nas típicas ruas Azzurri com os temas alusivos ao Nápoles e ao mítico Maradona, visitar a Galleria Umberto I e jantar perto do Castel dell'Ovo. 

Há um ditado que diz "Vedi Napoli e poi muori" porém não achei uma cidade de morrer. Pareceu-me caótica, desorganizada e um pouco suja comparativamente a outras cidades italianas que já visitei. Enfim, talvez mereça uma segunda oportunidade.



Scenic Roads of Italy: AMALFI Coast Drive • Strada Statale 163



Virgin Money London Marathon 2021

Enquanto a pandemia não nos permite viajar, com segurança, para países mais distantes ou exóticos, vamos aproveitando para viajar na nossa Velha Europa, desta vez não não como turista mas como desportista. Surge assim a Virgin Money London Marathon como próximo objetivo num interregno de ano e meio praticamente sem provas internacionais. E seria mais uma a contar para as seis World Marathon Majors.

Face às restrições impostas pelos países, em matéria de testes e vacinação, tivemos de apresentar um PCR negativo à partida do Porto. Já previamente agendado com uma empresa acreditada, seguiram-se mais dois testes no segundo dia em Londres. Um PCR para poder circular e ainda um teste rápido para apresentar à partida da prova caso fossemos selecionados para controlo.

Ao longo dos meses a situação foi evoluindo na incerteza e até ao dia da partida era sempre uma dúvida se algo iria correr mal a ponto de suspenderem a prova a exemplo de outras maratonas na Europa.

Já em território britânico foi surpreendente constatar que a maioria das pessoas não usava máscara, somente no metro porque era obrigatório e porque o distanciamento é quase impossível. A recolha do dorsal teve lugar no ExCel London onde decorreu também a feira de merchandising dedicada à prova. Aqui, todos usavam máscara ou não fossem na sua maioria os atletas receosos de contrair o vírus e ver a sua participação negada por falhar os testes de sábado.


Apesar de aparentar alguma tranquilidade, por dentro escondia-se um grande nervosismo. Isto porque vinha de um período de lesões e uma contratura surpresa na semana anterior que me obrigou a suspender as ultimas sessões de treinos e visitar o osteopata num derradeiro esforço para recuperar e seguir viagem para Londres. O que iria acontecer na prova seria portanto uma incógnita!

O tempo ameaçava com frio e alguma chuva por estes dias, esperando-se melhorias para o dia da prova. Como não estava propício a grandes passeios pela cidade, este resumiu-se a pontos mais turísticos como Buckingham Palace, Westminster Abbey, Big Ben, London Eye. O passeio continuou, no dia seguinte à prova, por Trafalgar Square, Picadilly Circus, para desentorpecer as pernas.

Felizmente as previsões cumpriram-se e assim o domingo amanheceu frio mas sem chuva. Cerca de 2 horas nos separavam da partida. Estávamos em Greenwich Park. A relva, ainda molhada, não permitia que toda aquela massa humana pudesse sentar e comodamente aguardar. Sentados em plásticos estrategicamente levados para o efeito, de pé a conversar ou aproveitando para tratar dos ajustes finais nas barracas de apoio, os minutos lá foram passando. Chegada a nossa hora de partida de repente tudo fica mais simples, os problemas ficam para trás, somente segue na memória a frase do João Barbosa: Esta está feita! 

Como tive direito a um pacer privado, os 42,195 km até passaram mais rápido. O objetivo era gerir o esforço para evitar o reaparecimento de lesões, mantendo o ritmo necessário para fazer um tempo que recompensasse todo o esforço despendido nos meses na preparação desta maratona.

O "muro" dos 30km chegou e com ele se inicia a verdadeira maratona. Até aqui trabalharam as pernas, daqui para a frente vai ser a mente a tomar conta do assunto. O desgaste aumenta, os quilómetros até à meta diminuem, o apoio do público é enorme, por vezes demais, recebe-se aquela motivação e energia que falta para colocar um pé à frente do outro. A ultima curva chega, corre-se para a meta com renovada energia e alegria não só porque o cenário é surpreendentemente olímpico mas porque termino mais uma maratona em boas condições superando, surpreendentemente, todas as incertezas dos dias anteriores. 

Valeu a companhia do Rogério 🙏 sempre a manter-me no ritmo certo, concluindo assim em 3h40m30s na posição 328 entre os 1449 seniores na categoria 55-59. Embora o objetivo fosse as 3h30m não foi mau, retirei 10min ao tempo de Nova Iorque.

Esta está feita!

A equipa maravilha, não satisfeita com os 42k da manhã, passou a tarde a deambular pela cidade entre Victoria Station, Vauxhall Bridge, Westminster Bridge acabando no Moo Cantina Argentina para recarregar baterias com uma bela dose de proteína antes de regressar ao hotel, com mais 10 km acumulados nas pernas. Apesar de se prever algumas mazelas nos dias seguintes importa é estarmos todos satisfeitos com esta experiência vivida em grande amizade e camaradagem.

João Coelho - Carlos Almeida - Rogério Calvo - João Barbosa

Outubro 2021