Nunca uma viagem foi tão simples de planear.
Um par de horas à volta da mesa já o grupo tinha traçado o plano: um voo até Nápoles, um comboio até Sorrento, uma Vespa para percorrer a Costa Amalfitana e uma mochila com o essencial para 8 dias de viagem.
Nápoles recebe-nos com uma chuva pouco animadora.
Refugiamo-nos de imediato na Pizzeria Pellone para apreciar a típica pizza napolitana, num ambiente descontraído e animadamente italiano de um sábado à noite. Nada como uma boa refeição para ganhar ânimo face às previsões do dia seguinte.
O comboio que faz a ligação de Nápoles a Sorrento passa por Pompeia. Apesar da chuva miudinha que caía, decidimos arriscar e visitar o Parque Arqueológico para conhecer os restos do que foi uma cidade do Império Romano.
Pompeia havia sido destruída durante uma erupção do vulcão Vesúvio
no ano 79 d.C., que provocou uma intensa chuva de cinzas sepultando
completamente a cidade, mantendo-a oculta por 1600 anos, até ser
reencontrada por acaso em 1748. Desde então, as escavações
proporcionaram a criação de um sítio arqueológico extraordinário e a
descoberta dos vestígios de vida de uma cidade dos tempos da Roma
Antiga.
Impressiona ver como a cidade, já nessa altura, estava bem
organizada, com a sua praça principal, o anfiteatro, as ruas
empedradas e o comércio essencial, desde a padaria até ao bordel.
Ainda se encontram vestígios de pinturas com motivos sexuais, uma
espécie de catalogo dos serviços disponíveis.
Sorrento é uma cidade muito agradável e elegante, a curta estadia não permitiu desfrutar da vida cosmopolita que revelou. Tivemos a sorte de encontrar o estabelecimento da
família Testa onde alugamos 3 magníficas Vespas que nos levariam a
descobrir a Costa Amalfitana durante os próximos dias. Recebemos
instruções, alguns conselhos e muita simpatia.
Como tínhamos o dia livre, atravessamos de barco para conhecer a
famosa e elegante ilha de Capri. Apesar de existirem muitos locais de
charme, o turismo em massa acaba por retirar parte do interesse. Quase
todo o comércio é direcionado ao turista, perde-se a naturalidade do
quotidiano assim como os residentes perdem a tranquilidade. Situação
que começa ser incontornável em muitos lugares por esse mundo e da
qual somos responsáveis pois também lá estamos!
À chegada, o funicular apresenta-se como a opção mais simples de
subir até à Piazzeta, no centro de Capri e daí percorrer as ruas mais
chiques da ilha como a Via Camerelle, ou visitar o panorâmico Giardini di Augusto para desfrutar das vistas sobre o mar Tirreno. O tempo foi
curto para visitar as praias e Anacapri, uma localidade menos
turística mas mais acessível.
Dia seguinte levantamos as Vespas e arrancamos em direção a Positano,
paragem para um café rápido que a polícia não facilita, seguido
serpenteando por Praiano, Conca dei Marini até chegar a Atrani onde
iriamos pernoitar nos dias seguintes. O tempo tinha melhorado
substancialmente, as paisagens estavam bem mais coloridas.
A cada curva desvendava uma vista ainda mais deslumbrante, onde o céu
e o mar pareciam fundir-se entre azuis vivos. Tantas vezes gostaria
ter parado e absorver a tranquilidade da paisagem, ou simplesmente
fotografar, mas numa estrada estreita e com limitações de
estacionamento, seria imprudente faze-lo. Ao longo da costa vão-se
encontrando alguns miradouros. É aqui que as carrinhas com turistas
conseguem espaço para parar, fotografar, arrancar para o próximo, em
ritmo acelerado, pois o transito não lhes permite
distrações.
Amalfi é uma das principais comunas (organização territorial) onde
todo o negócio é vocacionado para o turismo. O transito dentro da
comuna só é permitido aos residentes com visto, um visitante mais
distraído, identificado pelas inúmeras câmaras existentes, arrisca uma
multa superior a de €100. Os espaços de estacionamento destinados aos
visitantes são todos principescamente pagos. Nos meses de pico deve
ser um desafio enorme encontrar lugar para estacionar ou mesa para uma
refeição. Apesar de viajarmos de Vespa e parecer simples, o facto é
que estas também são às centenas, estando a maioria do espaços são
destinados aos locais. Afinal, estes veículos são único modo versátil
que a população tem para se deslocar por estas bandas. Veem-se muitas
garagens construídas nos telhados ou no que deveriam ser jardins das
casas. Aqui o espaço deve valer ouro!
Uma vez habituados ao temperamento das Vespas, a condução
tornava-se mais divertida. São 125cc de prazer em cada curva sinuosa
ou de adrenalina em cada ultrapassagem mais arriscada, sobretudo
para quem vem habituado a motos com mais de 1200cc.
A viagem seguiu por Minori, Maiori, Cetara rumo a Salerno, até ao
Castello di Arechi, onde se encontra uma excelente vista panorâmica
sobre a baía e a cidade. Salerno pareceu uma cidade simples com uma
extensa avenida marginal cheia de comércio e restauração.
Após uma breve visita ao centro histórico, regressarmos parando em
Vietri sul Mare. Ao longo de toda a Costa Amalfitana, encontravam-se
as mesmas lojas de souvenirs, roupa, artesanato cerâmico ou
decoração, muito coloridas com destaque para o amarelo do limão
típico da região e o azul na paisagem. Percorrer algumas ruas
tornava-se repetitivo. Seguimos viagem!
Ravello foi uma bela experiência. A comuna está encavalitada nas
escarpas de Amalfi a cerca de 6 km de Atrani. As Vespas percorrem
com facilidade a estreita e sinuosa estrada de montanha. Muito
agradável relaxar numa esplanada junto à Piazza Duomo ou passear
pelas estreitas ruelas, de onde se conseguem algumas vistas
fantásticas sobre o mar. Ravello tem qualidade, tem tranquilidade,
tem charme e muitas villas de luxo. Seguramente o local perfeito
para viver.
No terceiro dia a rolar na Strada Statale 163 passamos o dia em
Positano, a mais turística das comunas. Para evitar surpresas,
estacionamos as Vespas numa garagem e descemos a pé até ao cento
percorrendo as típicas ruas estreitas, de sentido único, até
acabar junto à praia. Observando de baixo para cima, parece uma
cidade Lego, com as casas encavalitadas umas nas outras formando
uma pintura incrivelmente colorida. Apesar de ser Abril, já se
veem muitos turistas, podendo-se imaginar como se tornará
irrespirável em pleno verão.
Ao longo da estrada principal, perto das comunas veem-se carros e
scooters estacionados na via dificultando a passagem do restante
trafego, sobretudo os autocarros que movendo-se com mais
dificuldade, arrastam atrás de si, muitos veículos que
dificilmente os conseguem ultrapassar. Deve ser um martírio na
época alta.
Com cerca de 170 km percorridos ao longo da Costiera Amalfitana, como os italianos lhe chamam, chegava a hora de regressar. De novo com a mochila às costas e depois de um
cafezinho na solarenga praia de Atrani, regressamos a Sorrento para os últimos
30 km definitivamente rendidos a estas
"italianas". Como diz o ditado não há bem que sempre dure...
Já em Nápoles, voltamos à Pizzeria Pellone para repor calorias e
deixar a bagagem no alojamento. Aproveitamos a tarde para passear
na Via Toledo, nas típicas ruas Azzurri com os temas alusivos ao
Nápoles e ao mítico Maradona, visitar a Galleria Umberto I e
jantar perto do Castel dell'Ovo.
Há um ditado que diz "Vedi Napoli e poi muori" porém não
achei uma cidade de morrer. Pareceu-me caótica, desorganizada e um
pouco suja comparativamente a outras cidades italianas que já
visitei. Enfim, talvez mereça uma segunda oportunidade.
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